quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ventre



Ali dentro estava tão quente, um calor maternal ocupava cada partícula do meu ser, queria ficar ali, deitado e encolhido eternamente. De repente meu corpo começou a crescer, eu não queria continuar, queria ficar quentinho eternamente, mas aquela mesma energia que me acolheu, agora obrigava-me a expandir. Mães...
Fui crescendo, ainda dentro dela e não tinha vontade de sair, quando eu assusto, uma luz enorme invade meu corpo e me aquece. Senti força, vigor e mais vontade de viver. Fui crescendo feliz, as vezes meu caminho parecia difícil e que eu morreria a qualquer momento, fui tão frágil e tão delicado no começo. Crescer me ensinou a ficar mais forte a cada dia. E então algo inesperado acontece, pássaros faziam ninhos em meus galhos, quadrúpedes comiam meus frutos, minha sombra abrigava os cansados. Eu havia entendido o significado de largar o ventre e crescer...

domingo, 22 de abril de 2012

Morte simbólica


Seus pés sangravam, seu corpo suava e sua respiração estava ofegante. Ele havia atravessado correntezas, vendavais, terremotos e desertos. Agora estava ali, parado em frente aquela enorme muralha de pedra e não sabia como continuar o seu caminho. Andara de um lado para o outro e a muralha não tinha fim, também não podia escalar, pois ela parecia ser mais alta do que o próprio céu.
O céu estava escuro e de repente todas as suas feridas começaram a latejar, agora que não sabia como prosseguir, prestava atenção ao seu corpo e sua dor. Enquanto perseguia seu objetivo, não reparava no cansaço, apenas em conseguir. Agora que não tinha como continuar, sua busca parecia perdida. Lágrimas escorreram pelo seu rosto e sua voz interior parecia morta. E não tinha como voltar, não tinha como mudar ou apagar. Encostou no muro, respirou fundo e com um último suspiro, ele pediu ajuda, ajuda pra Deusa.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Útero


Avistei seu brilho e corri pra abraçá-la. O vento brincava com os seu cabelos e o sol irradiava sua pele. Sua pele morena irradiava puro amor maternal. Sentia seu olhar em cada ponto daquele lugar, ela não estava apenas a minha frente, estava em tudo. Continuei olhando pra sua forma física, no centro daquela clareira, e de repente fecho os olhos, conseguia sentir sua presença em todos os cantos daquele lugar. O farfalhar dos ventos me dizia o que fazer, ainda de olhos fechados, começo a dançar e rodopiar, leves rajadas de vento brincavam com meu cabelo, pequenas partículas de orvalho abençoavam meus pés e doces risadas compunham a sintonia da minha dança. Dancei até cair ao chão, raízes começaram a aparecer e me levar pra dentro da Terra, dentro do útero D'Ela. Eu não sentia medo, apenas conforto. Abro os olhos e percebo que tinha voltado pra Ela, eu era o universo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

21:21


O sorriso corado e o silêncio esperado. A senhora levantou e caminhou até a janela, acendeu seu cigarro e tragou como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo todo.
Sua pele já não era a mesma de 40 anos atrás, seu rosto enrugado mostrava as montanhas que ela havia percorrido e suas vitórias conquistadas.
Decifrar aquele olhar era algo insuportavelmente impossível, mas prazeroso. Que terríveis guerras havia ali dentro¿ Hoje aquele olhar parecia distante, perdido em décadas de ouro, roupas coloridas e juventude transviada. Olhou pela janela e corou novamente, seu olhar agora era o mesmo de uma garota de 15 anos, totalmente decifrável e esperado. Era o olhar de quem se apaixona novamente, em segredo.

Minha eterna busca.


Andava por um corredor estreito, havia buracos e umidade. O cheiro de destruição era evidente em cada canto daquele lugar, não havia amigos, sentimentos, luz.

 A travessia era difícil, cada vez mais íngreme. Depois de tanto suor, tanta lágrima e tanto cansaço chego a uma porta de pura prata, sabia que lá dentro era a morada da Deusa e quando vejo essa porta volto correndo, atravesso os buracos, corro pro oposto. Não podia entrar ali, perderia tudo do meu caminho, meus amigos, minhas vidas, meu universo.
Agora sabia onde era a morada da Deusa. Também sabia que se por aquela porta eu entrasse, tudo acabaria. Chegaria ao fim das vidas.
Corri, corri, mas quando desejar voltar, sei onde encontrar aquela porta.