sábado, 29 de julho de 2023

 


Quando criança a vida era mais pesada, talvez por não poder escolher minhas coisas, ou por não conseguir me expressar, ou por achar que era uma árvore e, por esse motivo, preferia ficar mudo como elas.

O que os adultos não contam é que existem raízes que não são fixas.

Você pode cortar uma ou outra raiz para conseguir andar e sair de um lugar, isso não irá afetar toda a sua estrutura, muitas vezes a dor é o melhor caminho para conseguir se curar de uma ferida, raízes petrificadas não tem vida.

Quem disse que árvore não anda?

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Lembranças I

 




Esqueci de mim.

Mas as vezes lembro quem eu sou. Acontece ocasionalmente, nem sempre. Um lapso de memória me faz ver tudo o que eu quero ser e tudo o que eu não fui. Nem sempre podemos ser tudo, né?

Geralmente me vejo quando estou sozinho a noite, é como ver um retrato que não existe, feito de sonhos e desejos além do que os outros vão pensar. O que os outros pensam me atravessa como uma flecha cega, entra em meu corpo e me rasga por completo, é tanta dor que meu corpo anestesiou, assim como lembrar de mim ocorre de tempos em tempos, a dor que me anestesiou costuma ser vista ocasionalmente.

Quando lembro de mim, começo a planejar o que quero ser, as coisas que quero fazer, os mundos que quero visitar, as pessoas que quero xingar porque em algum momento do passado não fui capaz de dizer o que sentia. É uma vontade de gritar pra mim “acorda, chegou a hora de fazer o que quer!”.

O mundo então brilha de possibilidades, as correntes que me prendem parecem se afrouxar, a flecha parece sair do meu corpo e a ferida do olhar do outro parece sarar em um passe de mágica.

Viro rei do meu reino, talvez a bruxa da floresta, quem sabe até um integrante de alguma escola de super-heróis onde o mundo é tão mágico que tudo é possível.

Então eu durmo.

Acordo com um sentimento amargo na boca, o sabor de uma frustração, mas não ouso pensar no que sonhei, preciso trabalhar.

Quem sabe no futuro consigo ser.