sábado, 17 de maio de 2014

Gravidade

Briguei com a Gravidade, uma moça chata e metida, que não nos larga e não nos deixa crescer. Se as plantas crescem para alcançar a luz solar, por que nós também não crescemos para alcançar a luz? A luz das estrelas, do sol, do céu... astronautas de estrelas.
Dona Gravidade sempre nos puxa, tem medo de a abandonarmos e sumirmos na imensidão do céu. É uma mãe coruja mesmo. Mas ela é uma mãe que abre exceções: ela deixa seus filhos aéreos baterem asas, seus filhos humanos criarem mecanismos de voo, ela deixa vivermos em ilusão, porque no fim é ela quem vai nos manter dentro da terra.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Águardente

É tão triste pensar que sou humano, que você é humano, que somos humanos. Perdemos o significado de ser humano, perdemos a nossa profundidade de água. Hoje somos copos d'água. Quero meu oceano de volta, com tubarões e perigos, mas também com ilhas que me abrigam e plantas que me alimentam. É tão difícil perceber a banalidade de ser mais um copo com água? Tão previsível e fácil de evaporar.

Um dia serei água, serei mar, serei orvalho. Não me importarei em ser humano, estarei focado na minha profundidade, minha intensidade, meus mistérios. Um dia serei água-viva, água que vive e molda, onda.

E sonho, sonho com águas, águas que são sonoras, águas audíveis.

Sou águardente, que queima e muda, modifica, emociona. Choro, rio, canto. Água ar, ar.

Sairemos da estabilidade, nos moldaremos e nos incrementaremos ao mar, ar.