segunda-feira, 24 de julho de 2023

Lembranças I

 




Esqueci de mim.

Mas as vezes lembro quem eu sou. Acontece ocasionalmente, nem sempre. Um lapso de memória me faz ver tudo o que eu quero ser e tudo o que eu não fui. Nem sempre podemos ser tudo, né?

Geralmente me vejo quando estou sozinho a noite, é como ver um retrato que não existe, feito de sonhos e desejos além do que os outros vão pensar. O que os outros pensam me atravessa como uma flecha cega, entra em meu corpo e me rasga por completo, é tanta dor que meu corpo anestesiou, assim como lembrar de mim ocorre de tempos em tempos, a dor que me anestesiou costuma ser vista ocasionalmente.

Quando lembro de mim, começo a planejar o que quero ser, as coisas que quero fazer, os mundos que quero visitar, as pessoas que quero xingar porque em algum momento do passado não fui capaz de dizer o que sentia. É uma vontade de gritar pra mim “acorda, chegou a hora de fazer o que quer!”.

O mundo então brilha de possibilidades, as correntes que me prendem parecem se afrouxar, a flecha parece sair do meu corpo e a ferida do olhar do outro parece sarar em um passe de mágica.

Viro rei do meu reino, talvez a bruxa da floresta, quem sabe até um integrante de alguma escola de super-heróis onde o mundo é tão mágico que tudo é possível.

Então eu durmo.

Acordo com um sentimento amargo na boca, o sabor de uma frustração, mas não ouso pensar no que sonhei, preciso trabalhar.

Quem sabe no futuro consigo ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário