Esqueci de mim.
Mas as vezes lembro quem eu sou. Acontece ocasionalmente,
nem sempre. Um lapso de memória me faz ver tudo o que eu quero ser e tudo o que
eu não fui. Nem sempre podemos ser tudo, né?
Geralmente me vejo quando estou sozinho a noite, é como ver um
retrato que não existe, feito de sonhos e desejos além do que os outros vão
pensar. O que os outros pensam me atravessa como uma flecha cega, entra em meu
corpo e me rasga por completo, é tanta dor que meu corpo anestesiou, assim como
lembrar de mim ocorre de tempos em tempos, a dor que me anestesiou costuma ser
vista ocasionalmente.
Quando lembro de mim, começo a planejar o que quero ser, as
coisas que quero fazer, os mundos que quero visitar, as pessoas que quero
xingar porque em algum momento do passado não fui capaz de dizer o que sentia. É
uma vontade de gritar pra mim “acorda, chegou a hora de fazer o que quer!”.
O mundo então brilha de possibilidades, as correntes que me
prendem parecem se afrouxar, a flecha parece sair do meu corpo e a ferida do
olhar do outro parece sarar em um passe de mágica.
Viro rei do meu reino, talvez a bruxa da floresta, quem sabe
até um integrante de alguma escola de super-heróis onde o mundo é tão mágico
que tudo é possível.
Então eu durmo.
Acordo com um sentimento amargo na boca, o sabor de uma
frustração, mas não ouso pensar no que sonhei, preciso trabalhar.
Quem sabe no futuro consigo ser.
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